quarta-feira, 4 de maio de 2011

N’ó crítico - por AURÉLIO C. RODRIGUES

O problema com a crítica especializada (ou não especializada) é o para que e para quem ela serve. Parece que tanto um quanto o outro tem servido mais para colocar este ou aquele escritor na linha de frente de uma lógistica. Quem deve estar melhor colocado em uma sistemática de visibilidade literária?
Acontece que a crítica, tanto especializada como a jornalística, tem trabalhado mais como produtoras que como crítica (muitas vezes produtoras de si mesmo). Estão mais preocupadas em promover que entender o funcionamento litarário, que aclarar sua lógica, que desvendar seu registro, que desconstruir seu fenômeno para colaborar que a sociedade tenha meios para interagir melhor com a manifestação humana que se apresenta em situação de negação, por uns, e aceitação, por outros, como artístico e/ou literário.
O crítico deve apontar elementos que venham a esclarecer o que há em uma construção dita poética de escolha estética ou de posicionamente extra poético/estético, que muitas vezes o leitor comum não tem condições, e nem obrigação, de reconhecer. Nos últimos tempos tenho deixado meus cabelos crescerem sossegadamente já que o que a poesia é (ou melhor o que se entende dela) depende de um ponto de vista, de uma escolha estética e de fundamentos outros – que, muitas vezes, estão fora do estabelecido.
Qualquer coisa para ganhar a alcunha de poesia ou poema necessita de um grupo social que o pratique aceitando-o como tal. O crítico deveria leventar os elementos que permitiram que um grupo pudesse entender a coisa que pratica ou aceita como poesia valendo-se de um conhecimento dos outros momentos que vieram a compor um entendimento da poesia.
O leitor comum se aproxima das coisas por razões múltiplas e a entende tendo essa multiplicidade como ponto fundador de seu entendimento do objeto. Logicamente o leitor comum não vai buscar uma sistematização teórico-acadêmica para suas validações. São os teóricos-acadêmicos que devem trazer, para o leitor comum, elementos que o permita uma reavaliação. E, claro, levando em consideração o próprio leitor, seu meio social, as conceituações e construções que permeiam o homem e seus saberes comuns e atuais. Assim, o melhor é que o permitam, deem condições para que o leitor entenda seu próprio entendimento. O discurso crítico deveria minimizar seus imperativos.
A justificativa da intervenção do crítico está não para desaltorizar os vieses não acadêmicos, mas para faze-los duvidarem do estabelecimento, da fixação do criado entendimento comum.

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